Diário da Quarentena - Dia 38

>> domingo, abril 19, 2020


Pouco depois de "ligar o rádio" de manhã (na verdade, oiço "telefonia" online no telemóvel), foi-me oferecida esta cantiga dos Snow Patrol que havia tanto tempo não ouvia. Curiosamente, quando mais tarde o locutor anunciou o que tinha tocado, não falou desta cantiga. Terei sonhado? Não sei, mas soube-me bem ouvi-la.






Hoje fui até lá acima, a Adrenunes e à Peninha. A Serra estava cheia de gente por todo o lado, nalguns casos grupos numerosos, que certamente não estão em confinamento todos juntos. Desconfio que o pessoal está mesmo farto de estar em casa. Veremos daqui a 2 semanas se há alteração nos números.


A Peninha está a ser alvo de alterações que não auguram nada de bom. Boa parte dos trabalhos têm sido feitos nesta altura em que está toda a gente em casa. Não gosto do que vejo.







O nosso forno andava parvo, não aquecia por baixo, apenas no "grill". Desmanchei-o com a ajuda do Lourenço e estive a testar o que se passava. Finalmente, acho que ficou a funcionar, mas na verdade não cheguei a reparar nada. Devia ser um MCDC.



A propósito da discussão do momento nas redes sociais - se o Parlamento deve ou não ter uma sessão solene de comemoração do 25 de Abril - encontrei esta troca de "testemunhos" na página do jornalista Daniel Oliveira, que me parece resumir na sua essência as diferenças de abordagem.

Luis Xavier Olá Daniel! E por isto que eu tenho uma tendência a não levar a Esquerda muito a sério!
Num momento em que EU (um exemplo que, com certeza, serve para milhares de Portugueses) estou a 500 kms da minha família que não posso ver há mais de 3 meses, fiz 26 anos sozinho em casa, celebrei a Páscoa sozinho em casa e não faço ideia de quando posso voltar a abraçar os Meus, ver-te bater com o cravo no peito desta forma deixa-me mesmo triste! Não faço ideia dos teus sacrifícios nesta quarentena mas eu estou a sentir e bem! Celebrar Abril de uma forma simbólica, sim claro! Fazer um ato público não faz uma ponta de sentido! Não se pode tornar esta altura de exceção em guerrilha! Não se pode dar este exemplo! Não assim!

Humberto Silva Luis Xavier lamento a sua situação isto não tem a ver consigo. Tem a ver com um símbolo de liberdade e resistência. A sua história não é nem mais nem menos importante que a minha mas se estamos a trocar galhardetes de histórias pessoais fique com a minha. O meu pai adoeceu com doença oncológica no início do ano. No último mês de vida só pude vê-lo por Skype antes de morrer. No seu enterro só estive eu e a minha mãe e só mais 6 pessoas. Não houve velório. Foi da UCCI directo para debaixo da terra. Vejo todos os dias a minha mãe chorar porque não pode ir colocar flores na campa. Mas o meu pai viveu e morreu a lutar para que eu e vocês e todos estes justiceiros de rede social pudessem mandar bitaites no Facebook sem consequências. E puta que pariu se o meu pai fez o 25 de Abril para que o medo, o julgamento, a denuncia, o egoísmo e o ódio agora fizessem com que a casa da democracia não assinalasse o momento em que um dia permitiu que todos possam ter a liberdade que hoje todos têm como garantido. No dia em que os símbolos morrerem morremos nós. E esta é a minha posição.

Encontro nesta discussão alguns dos ingredientes que tenho visto serem utilizados no julgamento dos comportamentos "dos outros".
Muita gente sente conforto na noção de sacrifício, de castigo, como forma de sair desta crise. Esse meme incomoda-me.
Neste caso particular da celebração do 25 de Abril no Parlamento, as comparações são:
"Ah, mas na Páscoa ficámos todos em casa e agora estes tipos (uns malandros, certamente) vão fazer "uma festa" com 150 pessoas".
Ora, esta comparação é totalmente desonesta. Se tivéssemos todos celebrado a Páscoa como é habitual, teria havido uns largos milhares de Portugueses (arrisco uns milhões) a deslocarem-se para zonas distantes da sua residência habitual, para almoçarem ou jantarem em grupos de nalguns casos 10 ou 15 pessoas, com bastantes idosos pelo meio. Comparar isso com uma celebração no Parlamento que, envolvendo 150 pessoas, é feita com distanciamento social (numa casa que alberga 700) é de uma desonestidade intelectual que eu nem quero classificar.
O outro argumento que está sempre a vir para a discussão é o "respeito pelos mortos" ou "o respeito pelos guerreiros que estão na linha da frente". Ora, o cú não tem nada a ver com as calças. Para começar, celebrar a data fundadora da nossa democracia não é de nenhuma forma desrespeitar os mortos pela Covid-19, talvez até seja uma forma de os homenagear, por outro lado, o facto de haver quem esteja a trabalhar arduamente e a sofrer horrores nos hospitais e nas forças de segurança não invalida que se celebre dignamente o 25 de Abril, pelo contrário. Há muita gente que tem gravado desde a infância a noção de que temos que nos castigar para que a crise passe e isso deve ser combatido. É verdade que há muita gente que está a fazer sacrifícios terríveis para lidar com esta crise, mas bastam esses, não temos que acrescentar toda a gente se isso não tiver nenhuma utilidade. Já tinha falado disso noutro post, mas volto a lembrar as pessoas que vão a Fátima arrastar-se de joelhos para sofrerem à força. Isso é totalmente inútil. E neste caso, deixarmos de celebrar o 25 de Abril no Parlamento por haver muitas pessoas (a quem tiro o meu chapéu) que estão a sacrificar-se para lidar com esta crise global, não tem qualquer utilidade, não acrescenta nada a quem se sacrifica nem a quem morreu entretanto ou às suas famílias. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Se o Parlamento não foi bombardeado por tropas invasoras e se os intervenientes nas celebrações estão felizmente vivos e com saúde, que se faça o que tem que ser feito, da forma mais segura possível, para que o regime em que vivemos continue a ser celebrado.

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