Diário da Quarentena - Dia 20

>> terça-feira, março 31, 2020


O Matias, ainda com cara de sono, a aguardar que o pequeno-almoço fique pronto.


O meu habitual café agora é sempre em versão doméstica (embora haja cafés aqui da aldeia a venderem bicas em Take Away, em copos de plástico). Sabe-me mesmo bem este momento da manhã.


Hoje apanhei a sessão de acompanhamento do Lourenço nas suas lides "académicas".


A minha corrida de hoje passou pelo alto da Praia da Adraga. Cada vez encontro menos gente nas minhas corridas. Na verdade, deprime-me ver tudo tão deserto, embora isso possa ser considerado um bom sinal do nosso comportamento colectivo).



Foi publicado um texto no Facebook (vale o que vale), que parece dar a ideia de que para os Franceses é difícil perceber como é que em Portugal se consegue manter o povo em casa sem ser necessária uma intervenção policial musculada ou os tais formulários que os pobres Franceses têm que preencher cada vez que precisam de levar o cão à rua. Na verdade, o texto tem algumas incorrecções, designadamente o achar que ainda estamos a ser governados pela Geringonça, mas se é verdade que nos vêem desta forma, isso devia ser motivo de orgulho para os que efectivamente têm ficado em casa (como eu, à excepção da corrida diária) e devia também desmotivar os perseguidores de free riders, que afinal parecem não fazer assim grande mossa.
Se preferirem ouvir aqui fica:





A propósito do texto publicado pelo meu amigo Açoriano Miguel Bettencourt, partilho algumas ideias que me têm ocorrido sobre o tema da educação:
Durante bastante tempo, talvez até ao final deste ano lectivo, os alunos de todo o mundo irão ficar com sérias limitações de acesso às escolas ou pura e simplesmente em casa.
Esta é a oportunidade ideal para repensar todo o sistema, fazer-lhe um reboot, como dizia alguém há dias.
Eis algumas questões que deveremos fazer para permitir a emergência de um sistema de educação que seja melhor para todos:
1 - Será que é mesmo necessário, no século XXI, haver aulas presenciais? Ter um professor em frente a 30 alunos, todos virados para um quadro, todos a ouvirem o mesmo discurso, ao mesmo tempo?
2 - Com que critério definimos que matérias deverão os alunos todos de determinado ano aprender? Serão de facto as mais adequadas? Como poderemos definir um "esqueleto" de conhecimento que tenha que ser comum a todos os alunos? Terá ele que existir?
3 - Será fundamental dar notas nas avaliações? Teremos mesmo que distinguir os alunos por notas obtidas em testes? Ou bastará que os alunos demonstrem (eventualmente com auto-testes) ter compreendido determinada temática que decidiram ou lhes pediram para estudar?
4 - Não deveria haver mais espaço na vida académica para actividades não lectivas (do ponto de vista formal)? Exemplos: horta, actividade física, laboratórios de ciência, robótica, programação, escrita criativa, poesia, relacionamento inter pessoal, arte, etc.
5 - Será necessário obrigar os alunos a estar na escola quando eles não queiram lá estar (e tenham autorização dos pais para irem para casa, ou outro lado qualquer)? Fará sentido continuar a "chumbar" alunos por faltas, se eles encontrarem forma de aprender o que é suposto dispensando as aulas formais?
6 - Teremos mesmo que manter as "disciplinas" relativamente estanques, com professores de matemática que não sabem nada de Português ou de Educação Visual que não sabem nada de Física? Não poderão os professores ser mais polivalentes, acompanhando os alunos no seu estudo das várias matérias e recorrendo a "especialistas" quando patinam num determinado tema?

Este é o momento para fazer um verdadeiro brain storm sobre o sistema de educação. Quanto mais depressa encontrarmos soluções que se adaptem ao estranho tempo que vivemos, mais cedo estaremos preparados para o que ainda aí vem. Ou muito me engano ou as limitações com que estamos a viver hoje manter-se-ão por mais tempo do que gostaríamos ou regressarão mais vezes do que seria desejável. A educação terá que finalmente se libertar do modelo industrial e centralizado que a caracteriza há uns bons 200 anos ou não conseguirá adaptar-se à variabilidade dos próximos anos.


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