Um diamante atlântico
>> segunda-feira, setembro 11, 2006
Deu recentemente à estampa o terceiro livro de arquitectura das edições FG+SG, ou seja Fernando Guerra e Sérgio Guerra. Desta vez o protagonista é o fabuloso e premiadíssimo projecto Centro das Artes | Casa das Mudas, do arquitecto Paulo David, na Calheta, Madeira.
A minha apreciação sobre este projecto, infelizmente assenta exclusivamente nas fotografias do Fernando Guerra, uma vez que não tive ainda a sorte de o visitar ao vivo. Posso-vos dizer que assim que tiver oportunidade voarei para a Madeira com o objectivo prioritário de correr à Calheta e babar-me de contemplação.
Este edifício parece ter estado sempre ali, como se fosse fruto de uma erosão genial que o lapidou no rochedo. Parece ser ele próprio feito em rocha, com uma tal perfeição na harmonia dos volumes que o constituem que me é impossível imaginar o que lá estava antes dele. Uma das obras de arte que faz parte da exposição permanente deste Centro é o horizonte e o mar, servido em diversas molduras/vãos criteriosamente estudadas para se assemelharem a pinturas.
Parece tratar-se de um volumoso bloco de rocha, de onde foram vazados caminhos de circulação e rampas – talvez uma herança das famosas levadas que serpenteiam no interior da ilha – criando recantos simultaneamente acolhedores e abertos para o mar, onde deve apetecer ficar eternamente com os olhos postos no horizonte atlântico.
O livro retrata um dia passado no Centro, do nascer do Sol ao anoitecer. Contém textos de diversos autores, nomeadamente o próprio Fernando Guerra, Alexandre Melo, Ana Vaz Milheiro e José Mateus. É um pequeno livro (cerca de 13 por 18 cm, que é ligeiramente inferior ao A5), de resto exactamente igual aos outros 2 da mesma colecção (Centro de Espiritualidade do Turcifal e Conservatório Regional de Música de Vila Real), desta vez com as fotografias num papel mais baço do que as anteriores, o que lhes dá um aspecto mais real e cores provavelmente mais fieis.
Existe no final um pequeno dossier com a ficha técnica do projecto, plantas e cortes, que permite compreender bastante bem a distribuição dos diversos espaços.
As fotografias do Fernando Guerra têm sempre muito céu e forte presença humana. O céu dá-lhes luz e fá-las respirar. As pessoas conferem escala e vida aos projectos. Muitas vezes movimentam-se enquanto a foto é registada, tornando-se uns borrões humanóides que acrescentam alma às imagens. Neste livro há um novo elemento muito forte: o mar. Vamos passando as folhas e cola-se-nos à pele dos dedos o cheiro da maresia.
Percorrer estas pequenas páginas dá-me vontade de apanhar o primeiro avião para a Madeira, aterrar na Calheta e sentar-me num daqueles bancos, frente ao Oceano até me saciar do horizonte ou até me diluir na poalha das ondas, tornando-me eu próprio uma das sombras que habitam a lente deste talentoso fotógrafo.
Finalmente, o livro poderá ser adquirido no site http://www.ultimasreportagens.com/loja/
O preço é uma agradável surpresa: 12 € com os portes incluídos.
O primeiro livro desta colecção já esgotou, pelo que é melhor apressarem-se.
Se for caso disso passem por lá e depois digam-me qualquer coisa.
ZM
2 comments:
Acho q rumava à Calheta JÁ! Em termos de localização e paisagem assemelha-se um pouco a coisas já vistas em S. Miguel, Açores. Agora, o projecto construtivo demonstra ser 5 estrelas pela qualidade minimamente aqui apresentada.
Um abraço, Teresa.
Parabéns pelo post e pela disponibilização das imagens. Dá-nos vontade de dar lá um saltinho.
Obrigada,
Arquitectura.pt
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