A coordenada z

>> terça-feira, fevereiro 07, 2006

Um dos comentários ao último post diz:
"...quanto ao edifício objecto deste post, não sei bem onde lhe vês poesia. São formas de olhar e ver. Eu não gosto, acho um edifício "pesadão", mais parecendo uma cadeia."
Foi um comentário muito útil porque me fez pensar sobre o que me atrai neste edifício do Hestnes Ferreira.
Para começar, adoro as janelinhas (que não são tão pequenas como isso, mas parecem por causa da dimensão da fachada), mas disso falarei noutra ocasião. A outra coisa que me encanta são justamente as rampas e as passagens de um corpo para o outro.

A arquitectura no papel tem apenas 2 dimensões. As escadas e rampas acrescentam-lhe a dimensão z, a altura. Eu, que até sou um escalador viciado, adoro a altura. Talvez por isso me sinta tão atraído por edifícios com escadas, rampas e afins.

Estas imagens são da Ville Savoye, do Corbusier, e foram retiradas do site:
http://kandinsky.home.sapo.pt/savoye/savoye.htm
De resto, parece-me encontrar alguns elementos comuns entre esta "Ville" e as rampas do Hestnes Ferreira.

Estava eu a pensar em quanto me atrai o facto de poder mover-me em altura dentro dos edifícios quando encontro dentro da caixa do correio o último número da Arquitectura e Construção, onde aparece a reportagem fotográfica dos irmãos Fernando e Sérgio Guerra sobre a casa Toló, do Álvaro Siza Vieira Junior, também online no fabuloso site http://www.ultimasreportagens.com/.

Fiquei com a certeza de que as escadas são definitivamente um elemento que me atrai numa casa. Mais ásperas do que as rampas, permitem também usufruir do eixo dos zz's e elevar o nosso olhar sobre a paisagem. Fazem-nos ganhar altura e respirar melhor.

No caso da casa Toló, a própria casa é uma escada. Aliás uma dupla escadaria, uma interior, outra exterior. É uma cobra, fracturada, estendida sobre a encosta, ajeitando-se aos limites do terreno e à paisagem, como um bicho que se prepara para hibernar.

E esta, tem ou não poesia?

ZM

6 comments:

Anónimo,  2/07/2006 8:02 da tarde  

Como já havia dito, de arquitectura não entendo absolutamente nada mas vi muito mais leveza nos edifícios cujas fotografias afixaste hoje, comparando-os com o edifício ontem mencionado e fotografado. Gosto mais de escadas do que de rampas mas, no entanto, há escadas e escadas. Não é por ser uma escada que terei, obrigatoriamente, de gostar dela. De janelas e portas também gosto bastante. Também adoro poesia mas não é por ser poesia que tenho de gostar de todas. Há poesia, sim, na tua escada (última foto).
"(...)
Sobe-se numa corrida.
Corre-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
A escada sem corrimão".

David Mourão Ferreira

Bons posts. Cumprimentos.

Anónimo,  2/08/2006 11:19 da manhã  

Magnífico ZM. O Arrumário está uma verdadeira lição de arquitectura.

andrea 2/13/2006 9:52 da manhã  
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andrea 2/13/2006 9:52 da manhã  
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andrea 2/13/2006 9:55 da manhã  

este projecto tem sem duvida para mim muito mais poesia que o ISCTE. mesmo sendo construido em degraus, penso que seja muito mais leve que o ISCTE.

no post anterior, e volto a dizer que podem ser so as fotografias, o edificio tem mil e um elementos arquitectonicos no mesmo espaço. é confuso.
este... bem, percebe-se pelas proprias fotografias que nao tem excessos... o espaço é feito pela propria construçao. nao é uma caixa muito "normal" cheia de brinquedos là dentro.
este projecto da casa Tolo, é para mim um dos melhores nos ultimos tempos de habitaçao!

Griseo Cacir 1/11/2007 2:53 da tarde  

Como não sou arquitecto não tenho preconceitos e posso chamar os bois pelos nomes.
Penso que há uma diferença entre arquitectura e escultura. Esta casa Tóló é uma escultura muito bonita mas não é habitável e por isso não é arquitectura! Poderá ser passada licença de habitabilidade a uma pretensa habitação em 7 pisos - ou 6 se descontarmos o acesso - sem ascensor? Já não é obrigatório ascensor a partir de 4 pisos fora das grandes cidades?
Entre a cozinha e a sala distam uns 40 degraus: quando o desenhador estiver na sala, a quem pede uma cervejinha fresca?
Tenhamos coragem de criticar independentemente do nome do projectista! Sejamos capazes inclusivamente de dizer:"o rei vai nú".

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