L'Echo du Weekend Dernier

>> sexta-feira, dezembro 07, 2007

No fim-de-semana passado fomos de propósito ao Fundão para ver um espectáculo de Carlos Zingaro e de Francis Plisson, este um dançarino (e julgo que coreógrafo), aquele um fabuloso violinista e "maquinista".

Claro que tínhamos mais para ver no Fundão que, diga-se de passagem, é uma cidade muito atraente, com ar de comunidade estruturada, onde parece que as pessoas vivem com alguma qualidade. Tínhamos o edifício da Moagem, onde decorreu o espectáculo e sobre o qual falarei num outro post e tínhamos o Fundão e as suas imediações, onde fizemos uma corridinha matinal, daquelas de gelar um vulcão, armados em José Sócrates da Beira.

Antes de irmos para o Fundão, como já ficou dito, deixámos os garotos com os avós. Para já, aqui ficam mais 2 imagens desse "deixamento". Gosto particularmente da foto em que o avô aponta o caminho. Tomara que o possa fazer por muitos e bons anos. Estes farois, estas referências, são o que sustenta o edifício da pessoa ao longo da vida.


Lourenço, pensando nas couves da consoada.


O avô aponta o horizonte.

Chegados ao Fundão propriamente dito, fomos de corrida jantar "à aldeia", onde comemos um magnífico bacalhau assado, regado com Quinta dos Currais (que recomendo vivamente). Logo depois fomos até à Moagem, onde o espectáculo estava prestes a começar.
Chamava-se L'echo de mon corps répété dans le batement d'une aile murmurante.

No palco estava o Carlos Zingaro, ao comando das máquinas, com o seu ar tranquilo, como se nem lá estivesse, e Francis Plisson, de torso nú, quieto como uma estátua.





O ambiente era quente, vermelho como o sangue. Havia uma cama da qual escorrera um sonho escarlate que se derramara por todo o palco, como um mar sobre o qual pairava a figura de Francis, vestindo apenas umas calças de samurai. Havia ainda 2 espelhos irregulares, como janelas amarrotadas, reflectindo aquele oceano de sumo de sonho.


A figura começa a mover-se, sem qualquer som ou música, gerando ruído, como se todo o corpo fosse um microfone gigante. O movimento gerava sons de marulhar, de restolhar de roupas, que iam sendo gravados pelas máquinas de Zingaro e logo repetidos, re-alimentando o movimento do dançarino.



Zingaro era o tranquilo timoneiro daquela nave alucinante, recolhendo os sons de borboleta gerados pelos movimentos de Francis e logo os disparando de novo, excitando cada vez mais o dançarino.



Fomos assistindo a este distúrbio, por vezes alimentado também com alguns sons de violino, com ritmo e violência crescentes, dando a impressão que Francis se iria engolir a si próprio. Os braços pareciam não lhe pertencer, tal era a energia com que se moviam, como asas em alvoroço. Depois, numa espécie de êxtase, foi-se acalmando, abraçando o próprio corpo, deitando-se finalmente no tal leito, escorrendo ele também até submergir no mesmo mar de sonho.

Tivemos ainda tempo de ouvir um belíssimo poema, em francês:

"Je te flore
tu me faune

Je te peau
je te porte
e te fenêtre
tu m'os
tu m'océan
tu m'audace
tu me météorite

Je te clef d'or [como na Bele et la bête]
je t'extraordinaire
tu me paroxysme

Tu me paroxysme
et me paradoxe
je te clavecin
tu me silencieusement
tu me miroir
je te montre

Tu me mirage
tu m'oasis
tu m'oiseau
tu m'insecte
tu me cataracte

Je te lune
tu me nuage
tu me marée haute
Je te transparente
tu me pénombre
tu me translucide
tu me château vide
et me labyrinthe
Tu me paralaxe
et me parabole

tu me debout
et couché
tu m'oblique

Je t'équinoxe
je te poète
tu me danse
je te particulier
tu me perpendiculaire
et soupente

Tu me visible
tu me silhouette
tu m'infiniment
tu m'indivisible
tu m'ironie

Je te fragile
je t'ardente
je te phonétiquement
tu me hiéroglyphe

Tu m'espace
tu me cascade
je te cascade
à mon tour mais toi

tu me fluide

tu m'étoile filante

tu me volcanique

nous nous pulvérisable

Nous nous scandaleusement
jour et nuit
nous nous aujourd'hui même
tu me tangente
je te concentrique

Tu me soluble
tu m'insoluble
tu m'asphyxiant
et me lebératrice
tu me pulsatrice

Tu me vertige
tu m'extase
tu me passionnément
tu m'absolu
je t'absente
tu m'absurde"


Só achei o espectáculo muito curto. De resto foi surpreendente e muito belo.



No dia seguinte tomei algumas imagens do edifício da Moagem. Conto apresentá-las brevemente.

ZM

6 comments:

Sara Lambelho 12/08/2007 6:01 da tarde  

Meu deus, como o Lourenço está lindo!!!! ... e não, não é o jeitinho do fotógrafo.

Beijos grandes, ZM.

Fatyly 12/08/2007 6:41 da tarde  

Está lindo e parabéns aos papás por essas duas pérolas e os avós para que servem? para esses "deixamentos" que são o maior espectáculo do mundo onde nós brincamos e aninhamos os verdadeiros artistas:)

O espectáculo deve ter sido muito interessante e já tinha lido sobre ele. As fotos estão geniais.
Já agora Francis Plisson além de bailarino é coreógrafo e músico:)

Gostei do que li e vi!

Beijos para todos vós!

Rui Silva 12/10/2007 10:24 da manhã  

Caro Arrumário

Depois de uma pausa para retemperar forças, o Blog Serra de Sintra regressa com informação bastante preocupante acerca da Tapada do Mouco e do seu antigo Chalet.

Passe por lá.

Um abraço
Rui Silva

Carla Brito 12/11/2007 5:21 da tarde  

Descobri hoje este blog.
Estou a gostar!
É impressão minha, ou gosta de fotografia?
Para mim fotografia é uma paixão.
Adoro as suas fotos! São muito bem tiradas!
A máquina.... qual é, já agora?
Bjs

folhas_caidas.blogs.sapo.pt

dora 12/22/2007 12:06 da manhã  
Este comentário foi removido pelo autor.
dora 12/22/2007 12:07 da manhã  

conheço bem a moagem...
( com o prazer de lá ter trabalhado três dias de Maio...).
Espero para ver as tuas fotos.
Agora este poema....!!! Obrigada Zé por partilhares.
Abraço.

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