No momento de comprar uma casa, costumamos pensar demasiado em aspectos que, no imediato parecem fundamentais, mas que no longo prazo poderão não ser os mais importantes. A maioria das pessoas não se lembram ou ignoram detalhes que são a diferença entre uma casa confortável e uma outra onde é impossível viver com qualidade.
Em primeiro lugar temos que pensar que uma casa é um local DENTRO do qual vamos viver. Tal como as plantas, para nos sentirmos bem, precisamos de determinadas condições de:
1. Espaço
2. Luz
3. Temperatura
4. Humidade
Precisamos também de outras coisas, mas essas não são da responsabilidade de quem construiu a casa que vamos habitar.
As condições mencionadas acima estão dependentes de um conjunto de características da casa, de que frequentemente ninguém parece lembrar-se:
A forma da casa e a sua orientação solar – uma casa com 2 andares tem melhor rendimento térmico do que uma casa térrea. A relação volume/superfície exterior é sempre maior numa casa de 2 andares, pelo que as perdas térmicas são menores nestes casos. Todas as casas deviam ter a sua maior área exterior virada a Sul. Os maiores vãos deveriam estar desse lado, ficando os vãos mais pequenos na fachada Norte. Desta forma aproveita-se simultaneamente a luz e o aquecimento proporcionados pelo Sol a Sul e reduzem-se as perdas térmicas pela fachada Norte, sempre mais fria.
O isolamento das paredes – é muito mais eficaz, do ponto de vista térmico, colocar o isolamento das paredes no exterior, do que no interior ou entre 2 paredes. Desta forma, consegue-se que a inércia térmica das paredes (que estão à temperatura do ambiente interior) reduza as variações da temperatura interior, mesmo quando no exterior há variações maiores.
As superfícies que sejam iluminadas pelo Sol, sobretudo no Inverno, devem ter massa térmica, para acumularem o calor e manterem a temperatura interior sem variações.
Os grandes vãos da fachada Sul devem ser sombreados de forma a que no Verão estejam à sombra e no Inverno ao Sol. Os estores devem estar do lado de fora das janelas, para permitirem sombreamento total das janelas no Verão, impedindo-as de aquecer o interior.
A circulação de ar dentro de casa pode ser promovida de diversas formas: Junto aos grandes vãos da fachada Sul deverão haver zonas de comunicação entre os 2 andares da casa, chamadas de duplo pé direito, e as escadas de ligação entre os 2 pisos deverão estar junto à fachada Norte. Assim o ar aquece na fachada Sul, subindo, e desce pelas escadas, a Norte, onde arrefece. O ar é forçado a circular dentro de toda a casa, de forma natural. Deve haver janelas de bandeira que possam estar abertas, mesmo quando não há ninguém em casa. Preferencialmente, para aproveitar e promover o sentido de circulação de ar já falado, deve haver aberturas no topo da fachada Sul e na parte baixa da fachada Norte. Isso fará o ar entrar pelo Norte e sair pelo Sul, refrescando a casa no Verão.
O aquecimento do Sol pode ainda aproveitar-se de uma forma muito eficaz utilizando paredes Trombe, mas disso falarei noutra ocasião.
Devem evitar-se pontes térmicas com o exterior, sejam de que tipo forem. As janelas com cantaria de pedra podem ser muito bonitas, mas levam o calor da casa direitinho para o exterior, pelo que devem ser evitadas. Se conseguirmos que todas as superfícies interiores estejam à temperatura do ar dentro de casa, não haverá condensação de humidade nas paredes.
Podem dizer-me que, se seguirem todas estas regras, a casa dificilmente ficará bonita. Talvez tenham razão, pelo menos na opinião de alguns, mas gostos não se discutem. A verdade é que, quando compramos uma casa é para viver e não para mostrar aos amigos ou contemplá-la do exterior, pelo que deveríamos dar mais importância aos aspectos funcionais do que estéticos.
Pessoalmente, talvez porque me interesso por este tipo de construção há alguns anos, gosto mais deste tipo de casas do que da clássica moradia português suave, que se vê tanto por aí.
Como felizmente moro numa casa de construção bioclimática, que nem sequer é das melhores, uma coisa posso garantir-vos: este conceito funciona perfeitamente e só com muito sacrifício me sujeitaria a morar numa casa “tradicional”.
Se quiserem procurar mais informação sobre o assunto, podem começar por aqui --> ou seguir os links falados no post de arquitectura anterior.
Sigam as pistas, saiam do armário!
ZM
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