Quando eu era pequeno, contava-se lá em casa a história de um determinado aristocrata que tinha, certo dia, convidados de cerimónia em casa e decidiu abrir um daqueles vinhos excepcionais, envelhecido ao longo de muitos anos na cave da sua mansão.
Já depois de ter dado instruções ao mordomo para o ir buscar, lembrou-se que não tinha dado indicação expressa para que a garrafa não fosse agitada, para que o vinho pudesse ser decantado, como manda a etiqueta. Sabendo que o mordomo não era muito certo, esperou que ele regressasse com a garrafa e perguntou-lhe muito aflito, assim que ele entrou na sala:
- Chocalhaste, bruto?
O mordomo, também com alguma aflição, começa a agitar vigorosamente a garrafa e diz:
- Não, mas chocalho agora!
A que propósito vem esta história dos meus tempos de infância?
Por motivos que não vêm ao caso, o Lourenço alimenta-se a biberão. Como muita gente que conheço, temos os biberões prontos, com a dose necessária de água fervida no seu interior e, quando chega a hora, colocamos lá dentro o pó do leite e chocalhamos vigorosamente, como o bruto do mordomo.
Um destes dias, recebemos a visita de uma química, directora de qualidade de uma multinacional do sector farmacêutico, que nos perguntou, já não sei a que propósito como é que dissolvíamos o leite na água dos biberões.
Após termos descrito o processo utilizado (uma espécie de milk shake infantil), ela disse que não devíamos fazer isso de maneira nenhuma porque isso causava imensas cólicas à criança. A espuma gerada por este processo introduz demasiado ar no estômago do bebé, com todos os efeitos negativos que daí advêm.
Recomendou-nos que agitássemos o biberão em movimentos circulares, dissolvendo cada medida de pó, sem provocar espuma. Foi o que passámos a fazer.
A verdade é que o método parece resultar. Notámos de imediato uma grande redução na frequência dos choros provocados por cólicas. Este é provavelmente o ovo de Colombo dos biberões de recém-nascido.
Foi preciso falarmos com uma mulher que, além de mãe, é também química de formação para chegarmos a esta conclusão.
É por isso que eu digo sempre que as mulheres são mais inteligentes que os homens. Provavelmente são igualmente inteligentes, mas têm uma experiência que torna o conhecimento mais útil.
Um grande obrigado a esta mãe tão conhecedora dos meandros da química e da maternidade.
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