Vejam bem o que vai nestas cabecinhas
>> domingo, agosto 21, 2011
Artigo de opinião no Diário Insular (um dos dois importantes jornais locais):
"SEXO EDUCADO
O calor do verão excita os neurónios legislativos da secretaria regional da Educação. Com pouca descrição e menos intimidade ainda, em jeito de escapadela atrevida, procriam-se ali decretos, resoluções e portarias, sem olhar à paternidade ou bastardia dos visados.
Apanhados de surpresa, sem terem perdido decência alguma, os professores coram. Mais por raiva do que por vergonha. E os pais, impávidos ou distraídos, ainda não reagiram. Coitados, uns e outros são sempre os últimos a saber.
O facto foi consumado: toda a criançada vai ter educação sexual na escola. Obrigatoriamente. Quando os exames nacionais puseram a nu, mais uma vez, as fraquezas do sistema educativo regional, suas excelências da governação preferem investir no ensino das funções do sistema reprodutor. Não se questiona a opção, que suscitará mais entusiasmo nos fedelhos do que fórmulas matemáticas e regras gramaticais. Esse é o verdadeiro toque de sedução do insinuante currículo regional, cujo parto se prevê para as semanas mais próximas.
Vai ser lindo de ver. E mais ainda de ensinar. Imagino os materiais pedagógicos e recursos bibliográficos que serão disponibilizados a professores e alunos. Porque para estes fins, sintomáticos da modernidade que avassala a região, nunca faltam os patacos.
Só assaltam dúvidas sobre a existência de aulas práticas e faltas de material. Seja como for, muito antes do final da escolaridade, os moçoilos saberão de cor e salteado o mais avançado manual de sexualidade, ou das afetividades, como eufemisticamente lhe chamam. Os papás podem ficar descansados: a escola é obrigada a prover a malta com preservativos e pílulas do dia seguinte."
Há dois aspectos que não posso deixar de referir, a propósito deste artigo que me deixou boquiaberto (para não dizer indignado):
1 - Os Açores (e nem sei se a Terceira em particular) são a região do país onde a prevalência da gravidez em menores é mais elevada. Porque será? Porque as moças estão bem informadas ou porque esta lógica do pecado e do esconde esconde faz com que cheguem as hormonas antes da informação?
2 - Para esta cabeça pensante (o autor do artigo), a educação sexual lembra-lhe palavras como "escapadela, excitação, bastardo, decência, corar, vergonha, pôr a nu, preservativos e pílulas do dia seguinte". Eis a prova de que a educação sexual faz falta nesta comunidade. Espero que as crianças (nas quais incluo os meus filhos) que forem educados de acordo com esta nova norma de terem educação sexual nas escolas consigam chegar a adultos com uma visão mais abrangente do que a deste quadrado autor de artigos de opinião.
No meu entender, educação sexual, obviamente, não é sinónimo de ensinar a procriar. Coisa que, de resto, como está demonstrado pelas tristes estatísticas, ninguém precisa de aprender na escola. Justamente a ideia é conseguir informar e responsabilizar as pessoas antes de fazerem algo de que venham a arrepender-se. Ora, para combater a bacoca atitude do pecado e do fazer de conta que não existe aquilo que o corpo se encarrega de apresentar, nada como uma política de responsabilização e informação. No caso dos meus filhos (9 e 5, os que podem ser abrangidos pela medida), estão informados directamente na família, mas sei que há muitos que precisam encarecidamente de ser informados e educados pela escola, justamente porque a quantidade de pais com uma visão castradora da educação sexual é elevada.
2 comments:
"Só assaltam dúvidas sobre a existência de aulas práticas e faltas de material. Seja como for, muito antes do final da escolaridade, os moçoilos saberão de cor e salteado o mais avançado manual de sexualidade, ou das afetividades, como eufemisticamente lhe chamam."
Este Senhor, ou senhora sei lá, tem um problema grave. A palavra sexo ecoa-lhe na cabeça de forma assustadoramente perversa.
É de facto assustador a ignorância sobre a necessidade de educação tb a este nível. É assustador saber que muita gente pensa assim, de forma limitada... A matemática tem o seu espaço nao há q ter medo, mas prepar para a vida passa tb por abordar questões que fogem dessas ciências exactas... cidadania, sexo, assertividade, etc. Mas sim, fechar os olhos é mais fácil...
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