Os manifestantes

>> domingo, fevereiro 21, 2010



Ontem, observei com atenção as pessoas que se passearam na avenida em defesa do referendo ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, que o mesmo é dizer – pareceu-me –, contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Há dois aspectos que me preocupam, para não dizer chocam, na atitude de algumas daquelas pessoas. Em primeiro lugar, a desonestidade dos argumentos, em segundo o pretenderem manter proibido um direito reclamado por outrem cujo prejuízo próprio, por mais que me esforce, não consigo entrever.
Quanto à argumentação, falam frequentemente na defesa da família. Supondo que as pessoas pretendem casar-se justamente para constituírem família, não alcanço onde é que qualquer tipo de casamento pode ser uma ameaça à família. Ninguém está a pedir o direito ao divórcio, mas sim ao casamento; o outro argumento estafado, que me põe os cabelos em pé, é a comparação com os animais. Nem vejo como podem ser tão ingénuos para se deixarem armadilhar na ideia de que a homossexualidade não deve ser considerada "normal" porque os animais não a praticam. Nesse caso, tão pouco seria "normal" haver casais monogâmicos. Estou em crer que a generalidade dos bichos acasala com quem consegue e não com quem ama ou promete amar por toda a vida. Os animais não se casam, assim como não cumprem uma data de outras regras que consideramos inabaláveis, por isso essa ideia não pode justificar absolutamente nada relacionado com direitos de pessoas. As pessoas, até aqui, quero crer, casavam-se porque se amavam. Quero igualmente crer que as pessoas que reclamam o direito de se casarem, sendo do mesmo sexo, será pelo mesmo motivo: amarem-se. E contra isto, digam-me o que disserem, não me parece aceitável que se marche na avenida.
Ontem, nas notícias, vi mais que um manifestante de terço em punho (aliás numa saudação de muito má memória) ou erguendo a bíblia. Já percebemos de onde vem parte desta turba. Vão-me perdoar a heresia, mas não estou seguro de que esse Deus que defendeis, se sinta orgulhosamente representado por essa atitude.
Em mim, pessoalmente, este tipo de manifestações tem apenas um efeito: o de reforçar a minha convicção de que estou melhor do lado oposto da barricada. Se houve momentos em que tive dúvidas, quanto mais vejo quem são os que estão contra e porquê, mais consolido a certeza de que as pessoas homossexuais deverão poder casar-se sossegadamente, e viverem tranquilos as suas vidas. Virá um dia em que teremos todos vergonha de alguma vez ter sido diferente.
ZM

8 comments:

Rui Silva 2/21/2010 5:23 da tarde  

Assino por baixo, com um acrescento: o estafado argumento dos "animais" é, desde logo, falso. Existem comportamentais homossexuais em várias espécies, conhecidos e estudados por quem se dedica à Etologia.

mm 2/22/2010 4:00 da tarde  

Eu acho assustador. Estas pessoas assustam-me. E aquela bíblia preta agitada no ar parece-me tão letal como arma de fogo.

Anónimo,  2/23/2010 10:39 da manhã  

As pessoas deviam poder casar-se com quem quiserem, com o que quiserem, com quantos quiserem . pessoas com pessoas, pessoas com animais, depois, porque não?! com objectos e insectos. Afinal porque não?! Que têm os outros a ver com isso!?
hoje lutamos por 2 amanhã por casais de 3 e depois casais de 10. Nada importa porque a homosexualidade alimenta-se das familias heterosexuais onde vai buscar recursos de continuidade e evolução para criativos conceitos de amor e união.
O Amor e cego e a dissolução também.

Manuel Lopes,  2/23/2010 10:41 da manhã  

Anónimo?

Manuel Lopes

Zé Maria 2/23/2010 1:33 da tarde  

Manuel,
Sabe tão bem como eu que este seu comentário serve apenas para fazer ruído, levando a discussão para o registo do absurdo. Mesmo assim, vou responder.
Houve tempos (não tão longínquos, diga-se) em que às mulheres estava vedado o direito a votarem. Quando se começou a aventar a hipótese de alargar esse direito às mulheres, terá havido pessoas que, como o Manuel diz agora, terão dito que qualquer dia também alargariam o voto aos cães, gatos, pedras da calçada e bules de chá. Parece-me claro que isso nada acrescentava ao debate.
Pessoalmente, não conheço ninguém que viva maritalmente com um cão, um cavalo ou 10 mulheres. Porque será? O Manuel amaria o seu cão da mesma forma que ama a mulher com quem eventualmente está casado? Não acha que é por isso que não se levanta a questão de alguém querer casar com um bicho, diversas mulheres ou um piano de cauda?
O Manuel apaixona-se por diversas pessoas em simultâneo? Eu nunca tinha ouvido falar desse fenómeno.
Por isso, centrando o debate no que realmente importa, se compreendermos (e aceitarmos) que dois homens ou duas mulheres podem amar-se da mesma forma que um homem ama uma mulher e vice-versa - e eu acredito que isso acontece de facto - então não precisamos de complicar mais nada. Se se amam e pretendem casar-se, não vejo em que é que isso possa causar transtorno a quem quer que seja.
Trazer para a mesa cenários absurdos não justifica o injustificável. É ruído.

Anónimo,  2/24/2010 12:07 da manhã  

Podemos apaixonar-nos por uma pessoa e, essa pessoa ser do mesmo sexo...e então? o que isso pode incomodar aos outros? Uns apaixona-se por pessoas de outras raças, outros por pessoas mais velhas, ou mais novas, outras por gordos ou esqueleticos...e outro por pessoas do mesmo sexo! Cada um, como cada qual, mas todos pessoas!Ha ainda aqueles que em toda a sua vida são heterosexuais (sem qq duvida) e em determinada altura da vida apaixonam-se por alguem do mm sexo, e não podem por isso ser chamados de homossexuais (muito mais comum do que se imagina)não somos todos livres de optar???? E então? O que pode isso interessar, e pior, interferir na felicidade de pessoas como o sr. manuel lopes? ...Porque será que a sexualidade dos outros incomoda tanto as pessoas que pensam como este senhor e que supostamente teem a sua sexualidade bem defenida?...Terão mesmo?...

Teresa Noronha

Manuel Lopes,  2/24/2010 1:46 da tarde  

O Sr Manuel Lopes interferiu no quê, concretamente?
Parece uma acusação absurda não é?
Creio que o Sr. Manuel Lopes da mesma forma que não andou a acenar biblias como maluco fanático, também não anda a promover o "vale-tudo" e a hostilização das pessoas heterosexuais, onde todas as outras "buscas de felicidade legitimadas" vão buscar recursos humanos.
Foi apenas um comentário onde se constata alguma ironia da vida e da actualidade.

Quanto a definições de sexualidade, está visto que quem as tem será a Teresa, visto que entende que o limite do humana e socialmente aceitável, fica unanimemente satisfeito e definido até à não descriminação da homosexualidade... (ou será só até à poligamia consentida... aliás:... até ao intercâmbio conjugal voluntário. Melhor ainda: traça-se o risco até ao bestialismo em privado!

Se bem que na verdade, destas possibilidades todas, só existe a figura da Homosexualidade. O resto é absurdo. Não existe nem existiu nunca. Imaginário. Quando muito serão episódios raros de minorias ("malucos devassos?") a reprimir a todo o custo(esses e os heterosexuais) não é? Invenção e absurdo.

Caro Zé Maria e Cara Teresa, tenho menos interesse na cultura da homofobia do que parece e não mando nada na vida de ninguém embora a Teresa me atribua esse extremo poder.

Exprimi uma opinião pessoal que foi mal recebida. Neste momento não imagino como exprimir opinião diferente da vossa sem receber de troco as previsíveis mesmas frases "cliché" recheadas de agressividade. Já é dogma.

Um espelho para as vossas palavras quando quiserem falar de descriminação e tolerância.
Apenas não tenho interesse que a heterosexualidade seja reactivamente condenada como tem sido. E tem sido!
Há muito que se passou da simples defesa dos direitos das tendências sexuais alternativas para a sua directa promoção... e ai de quem abra a boca.
A polarização está feita e quem não é pró-Gay é (ruído)anti-gay, a rechaçar de alto a baixo.

No futuro, cá estaremos nós a fornecer dos frutos da heterosexualidade a sucessão para alimentar todas as formas de "direito à felicidade", e o que for há-de ser.

Voltando ao teor do post, de facto a manifestação tem todo o timbre de turba fundamentalista e massa pouco esclarecida, que quase aposto que reclama e não sabe bem do quê.
Não chego é ao ponto de dizer que não deviam ter direito a manifestar-se. Em todas as manifestações há pelos menos duas perspectivas em concorrência, que não necessáriamente más no seu fundo. Neste caso aproveita-se o desejo individual e colectivo de poder existir na sociedade como famílias de pai, mãe e filhos. E isso não é nada mau, garanto.

Manuel Lopes

Zé Maria 2/24/2010 6:03 da tarde  

Manuel,
Não encontro no meu texto nada de agressivo. Não é esse o meu estilo.
Pessoalmente, também acho que existir como família de pai, mãe e filhos é excelente. Como saberá se andou pelo blog, estou a caminho do terceiro filho da mulher com quem casei. Reconheço é esse direito às pessoas que sentem o mesmo que eu, mas por uma pessoa do seu próprio sexo. Penso que isso devia ser algo simplesmente aceitável para toda a gente. Nada mais.

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