Nunca liguei ao futebol. É um desporto que nunca me disse absolutamente nada. Quando, em miúdo, os meus amigos queriam jogar à bola (felizmente, poucas vezes) a única escapatória que tinha era ir para a baliza, tarefa que desempenhava com pouco mérito e muito sacrifício.
Foram precisas várias décadas da minha vida para conseguir ver um jogo de futebol do princípio ao fim e isso só aconteceu em jogos da selecção nacional, nunca num jogo entre equipas nacionais ou estrangeiras. Em contrapartida, quando via a Vanessa Fernandes a caminho da meta, emocionava-me até às lágrimas, mas isso são outros quinhentos e só os refiro para que não digam que sou insensível às glórias do desporto nacional.
Posto isto, passo ao tema que me trouxe aqui hoje: fiquei surpreendido com a reacção colectiva à morte do Eusébio. Não estou (ainda) a fazer qualquer juízo de valor, apenas digo que me surpreendeu.
E surpreendeu-me em primeiro lugar porque ignorava muito do que vou agora percebendo que foi a vida e o carácter do Eusébio. Ora, essa ignorância deve-se por um lado ao meu desinteresse pelo desporto que o tornou famoso, mas também (apetecia-me dizer sobretudo) ao pouco que se falava dele, pelo menos nos órgãos de comunicação mais generalistas, os tais que passaram os últimos dias a não falar de outra coisa. Esta histeria de agora, quando comparada com o silêncio de outrora, surpreende-me e de alguma forma choca-me. Terei andado distraído? Se assim foi, que me desculpem.
Em segundo lugar, o que é deveras surpreendente, e neste caso já não poderá ser fruto de distracção ou falta de paixão futebolística, é ouvir discursos como o do Pinto da Costa, em que ele diz que o Eusébio era um grande homem, um grande exemplo, porque (cito) “não tinha inimigos e não era inimigo de ninguém”. Mas como raio se pode achar que um grande homem, um homem exemplar, faz o oposto daquilo que fazemos e cultivamos? Como é que, no contexto do futebol Português, se pode achar exemplar um homem que aparentemente era humilde e verdadeiramente amigo de todos? Como se pode achar exemplar um homem que pedia desculpa aos guarda-redes por lhes meter golos ou lhes esmagar as luvas com um remate mais violento? Onde é que alguma centelha desse espírito nobre do verdadeiro desporto ainda está presente no panorama do futebol Luso? Será que, no seu tempo, este tal Eusébio que levantou agora multidões, atribuía permanentemente as culpas dos seus fracassos aos árbitros. Aprovaria ele aquele grupo tenebroso de gente que dá pelo nome de “No Name” e os seus cânticos?
Vi no noticiário como esse tal grupo quis ir também, em conjunto, prestar uma homenagem ao Eusébio, como se realmente o admirassem ou sequer falassem a mesma linguagem. Fiquei a pensar que, das duas uma, ou me andam a enganar com este mito do Eusébio morto ou, se ele era realmente aquilo que agora se relata, não vejo como poderia ele aprovar que uma claque usasse um símbolo cujas fontes são totalmente evidentes e cantassem coisas como esta que retirei
deste link:
Foder Lagartos
Comer Dragões
Este é o lema dos campeões
Força Benfica
Vamos vencer
Somos NN até morrer
Em cada Tripeiro há um paneleiro
Em cada Lagartão há um cabrão
E força Benfica
E força Benfica
Olé Olé
Se este Eusébio que me vendem, agora que já não está entre nós, era realmente como o descrevem, duvido que vibrasse com cânticos deste gabarito, assim como duvido que se revisse na simbologia que utilizam.
Tomara que essa chama, que parece ter comovido tanta gente, ilumine o futebol em Portugal e o torne um verdadeiro Desporto. Olé.
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