Sequelas da entrada anterior
>> quinta-feira, janeiro 10, 2008
Escrevi a entrada anterior, sobre Thiago Braddell, em jeito de provocação, mas não esperava gerar tanta animação e sobretudo não contava ser lido por arquitectos de cuja produção bloguista sou leitor e por quem (porquê escondê-lo) nutro respeito intelectual.
Surpreende-me igualmente a forma como os comentários a essa entrada vêm no sentido de "eu também gosto de Thiago Braddell". Caramba, eu não gosto! Alguma falha da minha escrita deu a entender o que não sinto.
Quando digo que acho estas casas "bem desenhadas", "bem projectadas" ou com "distribuições de espaços interiores bem elaboradas" quero dizer apenas isso. Não quero de forma nenhuma dizer que gosto (esteticamente entenda-se) desta arquitectura.
Como recuperação de construções da época que pretende mimetizar, parece-me que este arquitecto faz um trabalho notável, daí a comparação com Baganha, mas partilho a ideia de que procurar esta linguagem no século XXI é uma rendição ao tal saudosismo de que fala João Amaro quando diz que “procuramos o enraizamento em pretéritas memórias. Ou antes, traços de memórias do que não se viveu nunca, numa fuga inquieta para o paraíso artificial e perdido”.
“O desejo de redenção dos nossos medos contemporâneos, a ilusão do passado, em conflito com o presente angustiante, é o tema da arquitectura de Thiago Bradell”. Admito que sim. Não tinha ido tão longe.
Recordo com ironia algumas das casas de Braddell na Quinta da Marinha, que não aparecem fotografadas e cujos donos (bem conhecidos) sei quem são.
“As contradições disciplinares são evidentes. Construir de novo o antigo com a tecnologia do presente é um óbvio paradoxo. O resultado é um postiço. A matéria arquitectónica é manipulada ao sabor da conveniência mesquinha da aparência.
Os vãos, as coberturas, as pérgolas, os pórticos, as chaminés, as cantarias, são a concretização pífia da ordem simbólica de um mundo facilmente reconhecível e apreensível. A escala é a da brutalidade com que se pretende afirmar um paradoxo e proporcional à carteira e desejos do cliente.”
Não teria sabido escrevê-lo desta forma, mas concordo em absoluto.
Também concordo com o António, que diz:
“Por estranho e absurdo que pareça, aquelas coisas do Thiago Bardell (ou lá como é...) são uma das mais justas e pertinentes "criticas" à arquitectura "fashion" das "caixas" mais ou menos "re-vestidas", bem fotografadas e muito a-parecidas (umas com as outras...), publicitadas nas revistas (todas...) e nos "suplementos" da praxe...
Uma crítica ao discurso absolutamente "vazio" dos umbigos e dos académicos”.
Não deixa de ser curioso que, apesar de tudo, tanta gente procure a arquitectura de Braddell, como se não se revisse na arquitectura do seu tempo, nomeadamente o próprio, como referi.
Eu, que sou apenas um consumidor de arquitectura, não me revejo igualmente em alguma da arquitectura do meu tempo, na qual encontro defeitos semelhantes aos apontados a Braddell: o ser por vezes "Um nicho de mercado das aspirações nouveau riche avessas à cidade e à sua diversidade e pluralismo" (como escreve João Amaro) e a mesma "brutalidade" na escala.
Vão lá ler, que vale a pena.
3 comments:
absolutamente de acordo, caro zm, com o labor contemporâneo do bom sucesso. se quiser, até acho que incorre na mesma tentativa de fuga à realidade e à complexidade das coisas de que acuso (já pareço o Zola e o caso Dreyffus, perdoe-se-me a imodéstia), Thiago Braddell (não o arquitecto pessoalmente, mas a sua produção arquitectónica - é preciso ter sempre muito cuidado neste país onde se confunde uma crítica profissional com o pessoal). só que no caso do bom sucesso essa fuga é a expansas de grandes grupos económicos de promotores e que lavam o interesse - e a arquitectura - com um manto de sofisticação mais ao "gosto" contemporâneo e de sociedade.
mas por outro lado, e apesar de tudo, o bom sucesso tem a vantagem de promover "novas imagens", e de levar o público e os cidadãos a reflectirem um pouco mais no seu próprio "gosto" e nos seus póprios desejos.
mas descansemos, o bom sucesso, nem sequer é para portugueses. a promoção do empreendimento é realizado sobretudo em inglaterra, alemanha, irlanda e outros países do norte e do bem estar. o público alvo, o target, são os executivos e os chairman do capitalismo mais civilizado que procuram a fugam ao fim de semana dos seus encargos empresariais.
p.s. reparou como as gentes do oeste se afadigaram numa tristeza imensa ao saberem da nova localização do aeroporto. rude golpe, que apenas os vai fazer migrar para zonas como a comporta e afins. veja-se o posicionamento do grupo BES.
Não tinha até agora informação sobre a autoria do nicho, existente em Morelinho, através desta excelente reportagem/debate, sobre Thiago Bradell, vi resolvido uma das minhas dúvidas.Aproveitei e publiquei a foto do nicho que aguardava alguma pesquisa.Coloquei os links, para os dois posts do Arrumário.
Aproveitando para lhe desejar um Bom Ano Novo.
Um abraço
Pedro Macieira
os dois "estilos" são as duas faces da mesma moeda
que a arquitectura de T.B. tenha, ainda assim, essa capacidade "critica", é o que mais me interessa
é importante "saber ver" e analisar as obras com o mínimo de preconceitos (políticos, estéticos, etc.)
e, como dizia o outro... - aprender com tudo...
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