Acabou (pelo menos por agora) o Estado de Emergência. Talvez devesse agora parar esta série, mas como ainda estou à espera que seja possível trabalhar, vou continuar a dar conta do que faz um pobre pai de família, quando é impedido pelas circunstâncias de a sustentar.
Hoje fui correr para o lado das praias. Notava-se bem a diferença na atitude de muita gente, provavelmente potenciada pelo dia magnífico que esteve. Foi o primeiro dia deste ano em que saí para correr só com a T-shirt, sem mais nada por cima.
A Praia das Maçãs vista do Alto da Vigia.
A sombra e os pés do atleta, no mesmo local.
Tal como eu ontem vaticinava, algo de grave se teria passado no Cabo da Roca. Pouco depois de publicar o meu Diário da Quarentena de ontem, fui informado pelo Pedro Macieira, do blog Rio das Maçãs, sobre o que teria ocorrido. Infelizmente, foi mesmo mais um suicídio.
Aqui fica a notícia no Jornal de Sintra.
Isto são as tais favas que fizemos ontem para o jantar e que foram também servidas para o almoço de hoje, muito mais apuradinhas. Já agora, o prato, por acaso é um dos que há tempos foram aqui referidos como recuperados do lixo.
Como o dia estava realmente excepcional, fomos tentar a nossa sorte nalguma praia deserta. Os caganitos já estavam pálidos de falta de Sol, pelo que rumámos à Aguda, que tipicamente não tem mais do que uma dúzia de pessoas na praia toda. Havia, como seria de esperar, barreiras a impedirem os carros de chegar ao estacionamento, mas havia igualmente algumas pessoas a chegarem à praia a pé.
Como se pode ver, não estava propriamente uma multidão.
Bem sei que não era suposto irmos à praia hoje, e já sei que há muito quem ache que se houve quem não pudesse participar num funeral de alguém querido e se o Papa celebrou a Páscoa sozinho, nós não devíamos de forma nenhuma sair de casa, mas saímos.
No local da praia onde estivemos não havia mais do que 10 pessoas, distanciadas mais de 20 metros cada grupo. Honestamente, não havia forma de nos contagiarmos com coisa nenhuma nem que quiséssemos, mas OK, era proibido.
A páginas tantas, chegou a polícia, cumprindo o seu papel, e lá foi toda a gente em fila de pirilau pela escada acima, com um muito maior grau de proximidade do que até ali. Nada de alarmante, em todo o caso.
Já tinha falado antes deste jogo do gato e do rato que se vai fazendo por aqui com as autoridades. Felizmente, sem agressividade ou má-criação de qualquer das partes.
Cá em casa somos pouco disciplinadores, sempre fomos. A nossa teoria é a de que os putos devem fazer o que está certo porque está certo e não porque caso contrário serão penalizados ou porque o pai ou a mãe estão a ver. Tivemos diversas vezes questões com as escolas da Madalena por termos esta visão de que é mais importante a responsabilidade do que a obediência. Educamos os miúdos neste paradigma porque é também assim que gostamos de ser tratados. É por isso que aceito com alguma naturalidade as excepções às regras que foram aplicadas no 25 de Abril ou no 1º de Maio, sem achar que isso dá o direito a toda a gente de entrar em roda livre. Se todos fizermos isso, as coisas correrão melhor do que se quisermos que sejam as regras apertadas a regular tudo, incluindo o que não será possível regular, como é o caso dos acessos às praias. A única forma possível de as pessoas poderem ir às praias sem estarem ao colo umas das outras é cada uma decidir se tem ou não espaço seguro para estar na praia, e se não tiver terá que dar meia-volta. Isso vai exigir de todos nós um grau de civismo e de humildade que não são fáceis (e que muitos Portugueses não querem sequer cultivar, a julgar pela forma mesquinha como têm julgado os demais).
Não acho que isto vá funcionar melhor com a atitude de padreco de província do Rodrigo Guedes de Carvalho, que infantiliza as pessoas e acirra as invejas e os ódios. Se formos adultos, crescidos e educados, tudo vai funcionar sem serem precisas regras muito apertadas. Será que conseguimos todos ser isso, ou só sabemos funcionar no modo "command and control" que tantos parecem apreciar?
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