Por diversas ordens de razões, estive um longo período sem escalar rocha.
Ultimamente o corpo anda-me a pedir para voltar a escalar.
Há uma memória dos movimentos, do tacto da rocha, do sabor do magnésio, do vento perfumado de mar ou de floresta, que nos fica colada à pele e que nos visita regularmente, nem que seja em sonhos. A atracção pela rocha, ao fim de mais de um quarto de século de prática, é algo com que provavelmente viverei o resto dos meus dias.
Numa das minhas recentes incursões a Sintra, numa tentativa de acordar as fibras musculares atrofiadas, fui surpreendido por um casal de "velhotes" no cimo do Penedo. Julguei que fossem turistas em busca do caminho para o castelo, como acontece frequentemente. A minha primeira impressão viria a revelar-se profundamente errada.
O "velhote" saca do guia de escalada de Portugal, da Jingo Wobbly e pede-me, num italiano macarrónico, que lhe indique no croquis onde estamos.
Procurava um sector com vias fáceis, para onde eu próprio pensava dirigir-me, pelo que acabámos por ir juntos até lá. Pelo caminho, disseram-me que tinham 63 anos(!) cada um e que estavam ali para escalar. Eram alemães, mas só arranhavam italiano e francês. Tentámos comunicar em francês, porque o meu italiano é francamente mau, mas o francês deles não era muito melhor.
Fiquei impressionado com a desenvoltura com que aqueles 2 "velhotes", sobretudo a senhora, progrediam pela falésia, melhor do que muitos "jovens" que por lá tenho visto.
A "velhota" escalava à frente da corda, embora nestas fotos, estivesse na única via que a vi fazer em "top rope" (a corda que lhe dá segurança vem de cima e não de baixo).
Eu andava por lá sozinho, e só nesta altura consegui fazer fotos. A luz está uma trampa, mas o documento é impressionante.
Fiquei pensar onde estavam naquele momento as mulheres portuguesas com a mesma idade. A comparação fez-me admirar esta mulher e desejar que eu próprio venha a ter esta coragem.
Que sirva de exemplo aos que se deixam escorregar para a velhice por preguiça. Que nos sirva de exemplo a todos. Velhos são os trapos.
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