Um projecto apaixonante

>> segunda-feira, julho 31, 2006

Já lá tinha passado muitas vezes e ficava sempre com o olhar preso no alçado que dá para a estrada. Um alçado branco, quase cego, assente numa cota mais baixa do que a estrada, com um único pequeno vão, discreto, talvez incomodado pela diferença abissal para as casas vizinhas.
Fiquei muitas vezes agarrado pelo pequeno filme que via do lado da estrada, o lado nascente: os outros alçados – norte e sul – passavam num flash, deixando entrever uma pequena piscina do lado poente, uma sugestão de vista desafogada, uma espécie de olhar de águia sobre o cabo mais ocidental da Europa continental, de resto um bloco branco, de linhas ortogonais, de costas para mim, provavelmente aberto para poente. Há muito que tencionava ir ver aquela habitação do outro lado, mas nunca me tinha disposto a encontrá-la.
Ontem, deslocando-me de mota, decidi investir na busca do outro lado da casa. Tomei como referência um velho moinho de vento, já sem pás, e acabei por encontrar a entrada da casa, no lado poente, totalmente virada para a Roca.
Parei a mota, peguei na máquina fotográfica e registei esta imagem. Estava siderado pela beleza e pela simplicidade do projecto.

Quando baixei a máquina, dei de caras com um indivíduo no quintal da casa, que me olhava interrogativo. Fui apanhado com a máquina na mão…
Com um ar comprometido pedi desculpa ao senhor e disse que estava a fotografar apenas porque me interesso por arquitectura e achava aquele projecto magnífico. Ele convidou-me de imediato a subir ao plano da piscina e ver a casa mais de perto. Eu perguntei de quem era o projecto e ele disse, como se isso fosse evidente, que era dele:
- Sou arquitecto, fui eu quem desenhou a casa.
Eu perguntei o seu nome e ele disse Alberto de Souza Oliveira. Não me acordou nenhuma referência na memória.
Só mais tarde viria a perceber com quem tinha estado a falar. Confesso que por qualquer razão que me escapa, nunca tinha tropeçado naquele nome de forma a decorá-lo, mas trata-se de um conhecidíssimo arquitecto, com bastante obra pela cidade de Lisboa e outros locais do país, que tem trabalhado muito com um dos mais sonantes nomes da arquitectura nacional, Manuel Aires Mateus, e que faz parte do conjunto de arquitectos escolhido para o empreendimento Vila Utopia, em Carnaxide. Tanto quanto consegui investigar é professor na universidade Lusíada.
Levou-me a ver toda a casa, por dentro e por fora, numa visita demasiado rápida para apreciar tanta beleza. Foi justificando as opções com comentários do tipo: a minha mulher gostou muito da vista, a minha mulher gosta da cozinha assim e da decoração assado, como se as escolhas não tivessem sido suas de facto. Fiquei esmagado pela qualidade e gosto do projecto. Faz recurso aos pátios interiores, um conceito tão caro aos irmãos Mateus e actualmente muito explorado pelos arquitectos portugueses. Se nalguns casos isso me levanta reservas por questões térmicas e por apreciar vistas abertas, neste caso as escolhas pareceram-me criteriosamente acertadas.

O terreno é um lote delimitado a nascente por uma estrada muito movimentada ao fim-de-semana e a Sul e a Norte por casinhas português-suave, cor de rosa e cheias de telhados. A forma como esta casa consegue virar-se para poente, fechando as vistas quase exclusivamente para o mar, mas alimentando outros vãos com a luz dos pátios interiores é absolutamente genial. O pátio do alçado Sul, que ilumina a cozinha e um pequeno espaço de refeições, é fechado por uma parede suspensa, que parece lá estar exclusivamente para emoldurar a vista para o próprio jardim, escondendo a fealdade da casa vizinha.
No alçado Norte há também um recorte para onde dão alguns vãos: um grande vão na parte de trás da sala, que tem uma pesada portada branca de correr, e o do quarto das visitas, que de outra forma teria que ter uma janela para Norte, onde uma vez mais a vizinhança não teve grande gosto.
A escada que leva ao andar de cima desemboca num estreito corredor cujo fundo é apenas um vão de vidro, um recorte vertical da terra agreste daquela zona, um pequeno pedaço de horizonte e muito céu por cima. Imagino que percorrer aquele pequeno corredor seja um prazer intenso para a vista, alargando-se o campo à medida que nos aproximamos do vidro. É bom que não possa abrir-se ou correríamos o risco de querermos atirar-nos lá de cima. Este vidro vê-se na imagem. É o estreito recorte de vidro entre os desafogados vãos dos quartos que dão para poente.
Já comentei várias vezes que gosto de casas de banho com janela. Faz-me confusão a quantidade de projectos em que isso poderia ter sido conseguido com apenas um pequeno esforço, mas parece que não se valoriza essa possibilidade. Pois neste caso, de uma casa para habitação do autor, todas as casas de banho têm janela.

Tenho pena de não ter podido estar mais tempo a sentir os espaços, a perceber a luz e o fluxo das pessoas. É uma casa magnífica, como são quase sempre que o arquitecto é muito bom e é simultaneamente o cliente e o fornecedor.
Nas partes mais recuadas da casa conseguiu-se um controlo da luz que me pareceu muito eficaz e – diria – romântico. Os espaços têm luz, mas não se deixam ver. Fez-me pensar no tal conceito de penumbra, de que Álvaro Siza tanto gosta. Costumo ser um fervoroso adepto da luz e da vista, mas neste projecto percebi o quanto pode ser confortável ter a luz distribuída pela casa inundando as zonas mais sociais e controlando-a nas zonas mais privadas.
Foi um caso de amor à primeira vista. Não a consigo tirar da cabeça. Imagino o correr do dia e a dança da luz naqueles pátios. Imagino o privilégio que deve ser aquele voo de rapina sobre o cabo enquanto o sol mergulha doirado no horizonte atlântico. Imagino um livro lido naquelas cadeiras, com as portadas todas abertas, num cálido final de tarde. Imagino o silêncio de uma noite de Inverno, escura, chuvosa e fria. Um imenso breu entre as varandas e as luzes da Roca, o fogo a arder na sala, juntando a luz das chamas à dança caótica dos faróis dos carros na estrada, a espaços. Imagino o cheiro das torradas e do café, numa manhã de primavera, com a cozinha inundada de luz reflectida pela explosão das flores no pátio Sul.
Uma das coisas que me angustia na arquitectura é a dificuldade em apreciar condignamente o objecto que nos desperta paixão. Muitas vezes apenas o vemos de longe. Noutros casos temos o privilégio de conseguir tocar-lhe. Raramente conseguimos saciar-nos.

ZM

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Friedrichshafen

>> sexta-feira, julho 28, 2006

Na última semana fui a uma feira de equipamento de Outdoor, em Friedrichshafen, na Alemanha. Como o nosso budget era reduzido, decidimos empreender a viagem de carro.
Julgo que terá sido a mais longa viagem que fiz de carro em toda a vida. Fiquei impressionado com a diversidade de nacionalidades que se encontram a circular pela Europa. Da Moldávia a Portugal, da Eslováquia à Dinamarca, vimos matriculas de quase todos os países europeus.

O primeiro lugar onde parámos para dormir foi S. Sebastian. É uma cidade magnífica da qual tenciono falar noutra ocasião.

Estas imagens são de Friedrichshafen propriamente dita.


Os gloriosos malucos das máquinas voadoras.



Já no regresso, parámos em França, junto a este edifício, que achei bem fotogénico a esta hora.



Boas férias aos que já as estão a gozar ou que vão partir em breve.

ZM

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Mercado Medieval de Óbidos

>> quinta-feira, julho 20, 2006

No fim-de-semana passado, voltámos a Óbidos. Desta vez com o pretexto de ir espreitar o Mercado Medieval de Óbidos.

É um evento que tem reunido de ano para ano mais expositores e mais visitantes. Convém estar preparado para um banho de multidão, mas mesmo assim vale a pena o esforço.

Temos a sensação de estar num cenário de filme.

Aqui vemos um espectáculo de rua, bastante divertido.

A Madalena contou a toda a gente o que tinha visto nesta animação.




Um falcoeiro ia perdendo a ave, mas finalmente lá a convenceu a regressar ao seu braço.

A Madalena ainda teve a oportunidade de dar uma voltinha de pónei.

Este evento vai durar até 23 de Julho.
Para mais informações podem consultar http://www.cm-obidos.pt/custom/vpage.aspx?pg=mercado_medieval_2006
Se tiverem tempo e paciência, passem por lá.

ZM

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LX

>> segunda-feira, julho 10, 2006

Devido a obras em casa, há mais de uma semana que andamos aos caídos a acampar onde calha. Depois de uma semana bem passada num minúsculo anexo, no pinhal do Banzão, voltámos à cidade, onde já tinhamos estado no fim-de-semana passado. A vida na cidade é diferente, mas uma vez por outra até se torna divertida. A ideia de descer à rua para comprar pão quando a sopa já está na mesa é impensável para quem mora habitualmente no campo. Eu prefiro o espaço e o sossego, mas esta é uma agradável "feature" dos prédios.
Aproveitando a proximidade, fomos a Lisboa no Sábado.
Começámos por beber o melhor café do Chiado:


Estes que aqui vemos são os famosos quiosques desenhados pelo arquitecto João Santa-Rita, dos quais gosto bastante.



Já em Belém, deparámo-nos com esta mostra de carros antigos. O interior é de um Citroën "arrastadeira".




Lembrámos a primeira ligação aérea da Europa com a América do Sul.


Lisboa em turismo é sempre um local atraente e surpreendente.

"Almolanchámos" na Vela Latina, da qual destaco a qualidade dos produtos, a simpatia dos empregados e o bom ambiente geral. Recomendo vivamente.

Passem por lá.

ZM

PS: a reduzida frequência de posts prende-se com o "campismo" forçado e com o facto de o ADSL lá de casa ter pifado. De resto, o desgaste da paternidade também me tira um pouco a energia para a actividade cibernética. Pode ser que isto volte a entrar nos eixos.

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